quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Fidelidade

Marcelo Becacici


Fidelidade não é um valor entre outros, uma virtude entre outras: ela é a própria razão de ser dos valores e das virtudes. De que valeria a verdade sem a fidelidade dos verídicos?


Ela não seria menos verdadeira, decerto, mas seria uma verdade sem valor, da qual nenhuma virtude poderia nascer. Por que eu manteria minha promessa da véspera, já que não sou mais o mesmo hoje? Por fidelidade! É esse, de acordo com Montaigne, “o verdadeiro fundamento da identidade pessoal (...)”.


Porém, a fidelidade não desculpa tudo: ser fiel ao pior é pior do que renegá-lo. Os SS juravam fidelidade a Hitler; essa fidelidade no crime era criminosa. Fidelidade ao mal é má fidelidade.


Afinal, a fidelidade é ou não louvável? Depende dos valores a que se é fiel. Ela está no princípio de toda moral e é o contrário da perda de todos os valores.


“(...) Ninguém dirá que o ressentimento é uma virtude, embora ele permaneça fiel a seu ódio ou a suas cóleras (...). A virtude que queremos não é, pois, toda fidelidade, mas apenas boa fidelidade, a grande fidelidade”, diz Jankélévitch.


“Não há moral sem fidelidade de si para consigo, e é nisso que a fidelidade é mais válida, pois de outro modo não haveria deveres! A fidelidade é o contrário, não do esquecimento, mas da versatilidade frívola ou interessada, do renegamento ou da inconstância”.(Comte)


“Ser fiel a suas idéias é não apenas lembrar-se de que as teve, mas querer conservá-las vivas, querer lembrar-se não apenas de que as teve, mas de que ainda as tem. Querer conservá-las à força seria recusar submetê-las, se necessário, à prova da discussão, da experiência ou da reflexão.” (Sponville)

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